“Este professor deve necessariamente ter a preeminência, tanto nas afeições como no julgamento de vocês. Sua dignidade pessoal, a excelência do Seu ensinamento, também a grande destreza que Ele tem para ajudá-los a fazer e dirigir petições a Meu Pai para auxiliá-los, e para Seu prazer, deve colocar obrigações sobre vocês para amá-Lo, temê-Lo, e tomar cuidado para não ofendê-Lo”. (Encargo do príncipe Emanuel ao Homem da Alma, com respeito ao Espírito Santo Do Livro: A Guerra Santa - - de John Bunyan).
O bispo Moule, comentando o capítulo oito de Romanos diz: “Aqui o fato e o poder do Espírito Santo estão presentes por toda parte”, e é por esta causa que nos propomos a explorar algumas das riquezas deste grande capítulo.
O primeiro pronunciamento concernente à obra do Espírito Santo pode ser visto em Romanos 8:2: “Porque a lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te livrou da lei do pecado e da morte”. Quão íntimo é o vínculo entre a obra conjunta do Salvador e do Espírito para nossa salvação. A nova lei da vida que opera no cristão, é a Lei do Espírito da Vida, e está profundamente enraizada na obra graciosa e redentora do Salvador ressurreto a nosso favor. Os dois são um. Comentando sobre as implicações práticas disso o bispo Moule, ao falar sobre a lei mosaica, indica: “Ela deve mandar. O homem, que sendo o que é, deve rebelar-se. Ele se rebela e ela deve condenar. Então vem seu Senhor para morrer por ele e ressuscitar novamente, e o Espírito vem para uni-lo ao seu Senhor, e eis que o homem é libertado”. Tudo aquilo que podemos esperar encontrar em Deus, sendo filhos de Deus, é nosso em Cristo Jesus através do que Ele fez por nós em Sua cruz e naquilo que Ele é hoje; e o agente pelo qual tudo é transferido a nós é o Espírito Santo.
Isso nos prepara para o necessário “andar em Espírito” momento a momento do verso quatro. O objetivo que Deus tem em mente para os Seus é que o justo requerimento da lei, Sua própria santidade, possa ser manifesto neles para todos verem, assim como foi visto no Filho quando Ele vivia neste mundo. O Evangelho não é apenas para ser pregado pelos lábios daqueles chamados para esse propósito, mas também para ser proclamado pela vida daqueles que estiverem vivendo sob seu poder salvador. Isso se torna uma realidade não por alguma experiência isolada
após a qual a perfeição é completada, como muitos parecem supor e sim através de um caminhar dia a dia em humilde dependência do Espírito Santo de Deus que habita interiormente (Gl 5:16-26). Agora segue uma comparação das duas formas de vida e seus resultados. J. B. Phillips em sua “Cartas às Igrejas Jovens” (Letters to Young Churches), apresenta estes versos: “A atitude carnal não nos parece mais do que coisas naturais. Mas a atitude espiritual se estende após as coisas do Espírito A primeira atitude significa morte; a última significa vida e paz interior. E somente isso deve ser esperado, pois a atitude carnal é invariavelmente oposta ao propósito de Deus, e não pode nem quer seguir Suas leis por amor. Os homens que mantêm essa atitude certamente não podem agradar a Deus”. Aqui estão duas atitudes para a vida: uma cristã e adotada NA dependência de Deus o Espírito Santo, e a outra que é o caminhar do incrédulo de acordo com o curso deste mundo. O reino do Espírito é aquele lugar onde Ele ensina como o velho pode ser despido e o novo posto em ação. Este é um prelúdio necessário para a plena utilidade sob a influência do Espírito.
Tudo isso é confirmado no verso 9: “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o
Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele”. A diferença que coloca um grande abismo entre o homem da carne, e o homem do Espírito (Jo 3:6), é simplesmente que um é possuído pelo “espírito que agora opera nos filhos da desobediência” (Ef 2:2), enquanto que o homem que é nascido do alto é habitado por Deus o Espírito Santo (1 Jo 3:24 e 4:13). Nós transigimos sobre isso para nosso perigo, e não penso que seria indelicado dizer que a maioria das frustrações, falhas e erros que abundam na cristandade,
pode ter sua causa na baixa estima da maravilha do novo nascimento, e na conseqüente insistência na recepção do Espírito Santo.
O bispo Moule nos dá uma visão equilibrada da obra prática exterior nessas claras declarações: “Digno de nota é o modo como esta gloriosa verdade é introduzida. Já ouvimos do Espírito Santo na vida do cristão nos capítulos 5.5 e 7.6, mas aqui a verdade do Espírito, no capítulo 8 é projetada na luz e dá vida a cena inteira. Em tal ordem e significado de tratamento há uma lição espiritual e também prática. Somos seguramente lembrados no tocante às experiências da nossa vida cristã, que num certo sentido possuímos o Espírito Santo em Sua plenitude desde o primeiro momento em que recebemos a Cristo. Somos também lembrados que é pelo menos possível por outro lado que possamos precisar assim compreender e usar nossa aliança de posse para que a vida seja dali por diante uma nova experiência de liberdade e santa alegria”.
“Lembramos que tal afastamento quando acontece é novo mais do nosso lado do que do lado do
Senhor. Nem todos os crentes falham na primeira hora de sua fé para compreender e usar a plenitude daquilo que a Aliança dá a eles. E quando esta compreensão se dá depois da nossa primeira visão de Cristo, como acontece com muitos de nós, a experiência e a ação nem sempre são a mesma. Para alguns é uma crise de consciência memorável, um Pentecostes particular. Outros se despertam como que de um sono para encontrarem o inesperado tesouro em suas mãos. Outros tomam consciência de que passaram a usar a presença e poder como não acontecia anteriormente; cruzaram uma fronteira, mas não sabem quando. Em todos estes casos
eles tinham possuído o dom por todo o tempo. Já era deles na Aliança em Cristo, mas quando colocaram os pés pela fé penitente no Senhor, pisaram sobre o solo que de forma maravilhosa já era totalmente deles. E por baixo desse solo corre o Rio da Água da Vida, que eles precisavam apenas descobrir, para depois extrair e aplicar”.
É a mais alta tolice buscar padronizar a experiência cristã. O princípio que acompanha o precioso tratamento de Deus conosco é: Ele nos dá tudo em Cristo, para depois ser trabalhado na vida individual pelo Espírito Santo. Onde o Espírito Santo não habita não pode haver participação na graça de Deus, mas somos tão diferentes na constituição, experiência e educação que as manifestações de Sua obra são versáteis e incompatíveis de serem encaixadas em um padrão. Ele trabalha para controlar e usar o indivíduo, mas conserva a personalidade de cada um e opera com o consentimento ou não da vontade.
Isso nos leva aos versos 10 e 11: “Ora, se Cristo está em vós, o corpo na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça. E, se o Espírito daquele que dos mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dos mortos ressuscitou a Cristo Jesus há de vivificar também os vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita”. O corpo ainda está sujeito à sentença de morte passada pela queda, mas o Espírito que habita é a fonte de vida eterna. O resultado final da habitação do Espírito deve ser a sujeição de todas as coisas ao Salvador, o qual em Sua volta, “transformará o corpo da nossa humilhação, para ser conforme ao corpo da sua glória” (Fp 3:20-21). É maravilhosamente verdade que Seu povo muitas vezes renovou a força do corpo quando em submissão à Sua vontade. Mas não devemos ir além daquilo que certamente é manifesto em tais versos, afim de não corrermos o perigo de ir para os extremos que poderão vir sobre nós antes que percebamos. O dia virá quando a obra de Cristo será final e plenamente consumada, mas até aquele dia estaremos sob a responsabilidade do Seu Espírito e Ele é a poderosa força de Deus.
Os versos 12 e 13 trazem diante nós o aspecto prático de tudo isso: “Portanto, irmãos, somos devedores, não à carne para vivermos segundo a carne; porque se viverdes segundo a carne, haveis de morrer; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis”. A escolha da vontade é claramente colocada aqui e não devemos nunca nos esquecer que ou voltamos nossas costas para uma vida de comunhão com o mundo ou rejeitamos o Espírito de Deus. O resultado de nossa escolha é vida ou morte (8.6). Devemos lembrar também que a nossa escolha é inevitavelmente evidenciada na vida que vivemos. Falar em ser cheio do Espírito e viver governado pelos pecados e ambições da natureza humana caída, não tem sentido. A primeira e principal obra do Espírito Santo em nossa vida é nos refazer na imagem Daquele a quem Ele nos
uniu. Nosso texto também revela como Sua obra é feita. O ensinamento de Romanos 6 é vivida e poderosamente trazido diante de nós. O velho homem em nós foi colocado na morte em Cristo, o Espírito Santo é o único que pode aplicar essa crucificação subjetivamente, e Ele o faz quando apelamos para Ele assim fazê-lo, e estamos desejosos de obedecer às ordens de Sua vontade.
Depois lemos: “Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus” (8.14). Os filhos de Deus aprenderão a conhecer Sua direção, se andarem com Ele. É verdade com respeito a todo relacionamento humano que nunca conhecemos uma pessoa até vivermos com ela, e não é exatamente aqui que muitos casamentos afundam? Tudo vai bem a princípio, mas então vem um choque de vontades e aparecem as peculiaridades que não eram esperadas. Os cristãos têm que aprender muitas lições inesperadas sobre o Pai deles, e o relacionamento deles é mostrado pela disposição em submeter suas vontades a Deus. O Espírito Santo de Deus veio para ser o Professor deles, e se quiserem poderão aprender na caminhada habitual diária da vida, o conforto infinito e a gloriosa realidade da contínua direção divina.
O verso seguinte diz: “Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes com temor, mas recebestes o espírito de adoção, pelo qual clamamos: Aba, Pai!” (8.15). Desde que Adão se escondeu de Deus no jardim, passamos a ter medo do contato íntimo com Ele. Isso existe em todos nós e nos leva a suspeitar de Deus e temer Seus tratos conosco. O cristão é trazido para um novo relacionamento com Deus e aprende a confiar no Pai como criança, através do ministério do Espírito Santo interior. Muitos tentam todos os meios que possam imaginar ou ouvir, antes de se colocarem nas mãos do agente da Divindade, que assumiu o ajustamento de suas vidas e destino, e por isso vivem sob a mutiladora sombra do medo, nunca entendendo quão terno é o coração de Deus e como Seus filhos Lhe queridos.
Esta fase do ministério do Espírito é também o encargo dos dois versículos seguintes: “O Espírito mesmo testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus; e, se filhos, também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo; se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados” (versos 16-17). João expressa o mesmo fato nestas palavras: “Quem crê no Filho de Deus, em si mesmo tem o testemunho” (1 Jo 5:10). Aquele em quem o Espírito de Deus habita vive na luz de um céu aberto. Eles são verdadeiros cidadãos de um país celestial e como estão unidos ao Senhor deles nos problemas, sofrimentos e oposições com os quais este mundo os confronta, alcançam às vezes a emocionante visão das glórias que esperam aqueles que O amam (1 Co 2:9-10). Os cristãos cheios do Espírito não podem permanecer nos lugares rasos. Eles não podem permanecer no lugar onde as águas que fluem do
Santuário chegam apenas ao tornozelo; eles acham que pelo impulso do Espírito devem seguirem frente para o lugar onde há suficiente “água para nadar” (Ez 47:1-5). O desejo para a plena consumação da graça de Deus concernente a eles cresce e aumenta enquanto a vida prossegue, e assim lemos verso 23: “E não só ela, mas até nós, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, aguardando a nossa adoção, a saber, a redenção do nosso corpo”. Quão espasmódicas e enfraquecidas são nossas limitações humanas, e quão sinceramente uma pessoa cheia do Espírito anseia pelo dia em que seu serviço será sem limites, quando “conheceremos plenamente, como também somos plenamente conhecidos” (1Co13:12).
Mais uma referência à obra do Espírito Santo é encontrada nos versos 26 e 27: “Do mesmo modo também o Espírito nos ajuda na fraqueza; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aquele que esquadrinha os corações sabe qual é a intenção do Espírito, porque Ele, segundo a vontade de Deus, intercede pelos santos”. Aqui entramos bem no santuário interior da vida cristã, o lugar de comunhão com Deus. Até mesmo aqui somos inúteis em nós mesmos e somos chamados para confiar no ministério do Espírito Santo interior. Não sabemos como orar e precisamos ser ensinados, e então descobrimos que Ele que conhece nosso coração e também o coração do Pai, toma sobre Si mesmo o encargo poderoso e misterioso de orar por aquilo que as palavras humanas não podem expressar. Então, cheios de espanto e assombro, descobrimos que estamos sendo ensinados sobre aquilo que Deus pretende fazer, e todo nosso ser parece se unir num grande amém! A primeira vez que realmente começamos a entender o que significa orar: “Seja feita a Tua vontade na terra, assim como é feita no céu”, e nosso coração num salto de fé pula pra frente, e em meio a mais escura perspectiva somos capacitados para discernir que Ele está operando Seu próprio plano e que nenhum pensamento Dele pode ser impedido (Jô 42:2). “Ele se move”, disse o bispo Moule, “na alma cansada e assopra a Si mesmo em seus pensamentos, e Seu misterioso suspiro de anelo divino junto com nosso gemido por capacitação e nossos anseios, superam todas as coisas, não em direção ao descanso, mas em direção a Deus e à Sua vontade. Assim o desejo mais profundo e dominante do cristão é fixado e animado pelo abençoado Habitante, e busca aquilo que o Senhor mais ama conceder, a saber, Ele mesmo e tudo aquilo que O satisfaz”.
Maravilhe-se diante da maneira em que a revelação deste grande capítulo concernente à pessoa e obra do Espírito Santo de Deus se encaixa com as outras Escrituras que tratam deste grande tema, e fornece uma base sólida para todos os nossos pensamentos sobre a vida cheia do Espírito.
Do livro: “A Bíblia e a Vida Cheia do Espírito” (The Bible and the Spirit-filled Life), de J. C. Metcalfe
Fonte: Revista “O Vencedor”, Junho a setembro 2007
J. C. Metcalfe