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7 de dezembro de 2007

NEGANDO A SI MESMO

Meus muito amados,

Em Gálatas 5.16-17, Paulo escreve: “Por isso digo: vivam pelo Espírito, e de modo nenhum satisfarão os desejos da carne. Pois a carne deseja o que é contrário ao Espírito; e o Espírito, o que é contrário à carne. Eles estão em conflito um com o outro, de modo que vocês não fazem o que desejam.”
Quando perguntaram ao nosso Senhor como deveríamos orar, Ele deu uma resposta simples: “Pai nosso, que estás no céu, santificado seja o Teu Nome.” Nós repetimos esta oração, mas o repeti-la não é suficiente. Ele pronunciou estas palavras com uma certa entonação, com um certo ardor em Seu coração. Seus olhos brilharam. Você podia ver o Seu amor pelo Pai. É desta forma que o “Pai nosso que estás no céu” deveria ser orado.
Por cerca de 60 anos, eu tenho tentado encontrar a entonação correta. O apóstolo Paulo escreve: “Falo como embaixador de Cristo.” Suplico como se fosse Deus quem suplicasse. Eu lhes imploro. Acreditem que eu ponho todo o meu coração no que eu tenho a lhes dizer. Eu estou com 88 anos e esta pode ser a minha última mensagem, portanto vou tentar lhes dar o melhor de mim.
Como muitas outras pessoas, durante muitos anos estive sozinho numa cela, cerca de 10 metros debaixo da terra. Eu não via mais o sol, a lua, a neve, as flores, as estrelas ou a chuva. Houve um tempo em que cheguei a esquecer que estas coisas existiam. Eu não via mais as cores – azul, verde, amarelo, violeta. Foi um tempo em que esqueci que existiam cores. Para mim, o mundo era cinza.
Na prisão, eu não podia ter uma Bíblia ou qualquer outro livro. Houve uma época em que recebíamos só uma fatia de pão por semana. Ou, então, uma sopa de casca de batata. Nunca mais vimos um vegetal fresco. Os comunistas comiam as batatas, nós, as cascas. Em 14 anos eu não vi uma fruta sequer, a não ser uma vez em que um guarda comeu uma fatia de melão e me deu a casca para eu comer.
Em vez de lhes contar os detalhes de dor e sofrimento, eu quero lhes contar sobre uma das coisas mais importantes que eu aprendi lá.
Em Gálatas 5.17, a Bíblia fala sobre uma luta interna. Vocês já ouviram falar em gêmeos siameses. É quando duas crianças nascem grudadas uma à outra. Elas podem ter quatro mãos, quatro pernas, mas estão grudadas, muitas vezes, pela cabeça.
Atualmente, os médicos têm tido sucesso em separar algumas dessas crianças. Mas, essa possibilidade não existia quando eu era jovem. Era uma aflição! Elas tinham de viver juntas. Nunca chegaram a ficar separadas, nem um minuto sequer. Se tivessem qualquer desentendimento, brigavam. Brigavam consigo mesmas, porque uma e outra eram a mesma pessoa. Não eram corpos distintos.
Bem, nós somos como esses gêmeos siameses. Eu creio que sou uma pessoa, embora ninguém seja uma pessoa. Todo mundo tem, pelo menos, duas naturezas, segundo a Bíblia – a carne e o Espírito. Ambos são a mesma pessoa. A carne luta contra o Espírito e o Espírito luta contra a carne. A carne deseja uma coisa; o Espírito deseja outra coisa. A carne deseja matar o Espírito. O Espírito deseja impedir que a carne faça todas as coisas más que deseja. A Bíblia usa palavras diferentes como o homem exterior e o homem interior, mas o homem exterior e o homem interior são o mesmo homem.
Na prisão, cada um de nós em confinamento solitário podia observar a si mesmo. Não tínhamos nada mais a observar. Não havia TV. Não havia rádio. Não havia um irmão ou irmã a quem você pudesse visitar. Ninguém para abraçar. Ninguém com quem brigar. Estávamos sozinhos.
Era como se estivéssemos em um cinema, observndo duas pessoas discutindo uma com a outra. Acontece com cada um de vocês. Sabemos que todos os dias, de um modo ou de outro, essas duas pessoas na terra discutem uma com a outra. Uma diz: “Seja pura. Seja fiel ao seu cônjuge, ao seu noivo, à sua noiva”. A outra responde: “Mas, um caso com uma outra pessoa ia ser ótimo”. Uma diz: “Seja honesto”. A outra responde: “Com honestidade, você vai continuar pobre”. Uma diz: “Brigue com essa pessoa e diga-lhe isto e isto”. A outra diz: “Seja bom, perdoe-lhe”. Todos nós temos essas duas vozes dentro de nós – a voz da carne e a voz do Espírito.
Nós podemos vencer. Se diariamente, tivermos a consciência: “Pai nosso que estás no céu, seja feita a Tua vontade, não a minha”. A vontade Jesus era santa, boa e perfeita. Entretanto, no jardim do Getsêmani, Ele disse a Deus, Seu Pai: “seja feita não a Minha, mas a Tua vontade”. Esta vontade era que, dentro de poucas horas, Ele iria ser açoitado até sangrar, iria ser coroado com uma coroa de espinhos e eles iriam trespassar as suas mãos e pés com pregos. Ele iria ver a Sua santa mãe chorando ao pé da cruz. Deve ter moído o Seu coração. Ainda assim, a vontade de Deus iria ser feita, incondicionalmente! Se você quer vir após Ele, Jesus diz que a primeira condição para segui-lO é: “Qualquer que quiser vir após Mim, a si mesmo se negue”. Uma agenda pessoal que muito poucos gostariam de seguir atualmente. O “si mesmo” não deseja nada. Você renuncia a sua vontade. Você preencheu esta única condição imposta por Cristo. Se você quer Me seguir, negue-se a si mesmo.
Paulo não vive. Ele diz em Gálatas 2.20: “não sou eu mais quem vive, mas Cristo vive em mim”. Ele sacrifica os seus desejos pessoais a Deus. Ele renuncia a sua própria identidade com “seja feita a Tua vontade”.
É deste modo que podemos entrar no gozo da paz, que podemos nos tornar frutíferos. De outra forma, a maior parte da nossa vida vai ser vivida nessa luta interna de gêmeos siameses – a carne que quer uma coisa; o Espírito que quer outra coisa. Algumas vezes, o Espírito vence, mas depois de um dia, pode ser o contrário. O outro lado vai vencer. Você vai continuar nessa contenda, até que venha a dizer de uma vez: “Deus, entre nós vai ser assim. Seja feita a Tua vontade. Eu renuncio a minha vontade”.
Isto é tudo o que tenho a lhes dizer. Foi uma grande alegria estar com vocês no Espírito, meus queridos filhos. Deus abençoe a vocês todos.

Sinceramente em Cristo,

Wurmbrand

www.vozmartir.org
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