| Edir Macedo diz: “A tradição religiosa ensina que devemos pedir todas as coisas dizendo ‘se for da vontade de Deus’. Conseqüentemente, poucas pessoas têm experimentado milagres de cura. Parece contraditório, mas a realidade é que muitos cristãos, e até pastores, acreditam que ‘talvez não seja da vontade de Deus curar’. Isso é diabólico, falso, abominável”. (“Folha Universal”, 4/05/08, p. 3.) A Bíblia diz: A nossa vontade nem sempre coincide com a vontade de Deus e a vontade de Deus deve ser levada a sério. Na oração modelo, o Senhor Jesus mesmo coloca em nossos lábios o respeito pela soberania de Deus: “Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6.10). O próprio Jesus, em sua tremenda agonia no Getsêmani, três vezes seguidas suplicou a suspensão do cálice do sofrimento sem abrir mão da submissão devida a Deus: “Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas sim como tu queres” (Mt 26.39). Mesmo convencido várias vezes pelo Espírito de que passaria por prisões e sofrimentos em Jerusalém (At 20.22-24), o que foi confirmado dramaticamente por um profeta chamado Ágabo, o apóstolo Paulo não desistiu da viagem, apesar do pedido de Lucas e dos crentes de Cesaréia, que acabaram descobrindo que essa era a vontade de Deus (At 21.10-14). A Bíblia diz que Davi já havia se arrependido do seu adultério e que a mão do Senhor já não pesava mais dia e noite sobre a sua cabeça (Sl 32.1-5), quando seu jejum e oração chorosos em favor da criancinha gravemente enferma não foram atendidos (2Sm 12.15-23). Havia muitos leprosos em Israel (povo eleito) no tempo de Eliseu, todavia nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o gentio (Lc 4.27). Timóteo era um homem doente. É Paulo quem nos dá esta informação: “Tome um pouco de vinho, por causa do seu estômago e das suas freqüentes enfermidades” (1Tm 5.23). Ora, será que sua avó Lóide, sua mãe Eunice, os presbíteros da igreja, Paulo (seu pai na fé e tutor eclesiástico) e ele mesmo, todos crentes, não oravam por sua cura? Paulo foi obrigado a deixar Trófimo em Mileto, porque ele havia adoecido (2Tm 4.20). Cabe aqui a mesma pergunta: será que Paulo, os demais companheiros de viagem, a igreja de Mileto e o próprio Trófimo não clamaram em favor de cura? É certo que a Bíblia encoraja a oração em favor dos doentes. É uma das obrigações da igreja, nem sempre levada avante: “Entre vocês há alguém que está doente? Que ele mande chamar os presbíteros da igreja, para que estes orem sobre ele e o unjam com óleo, em nome do Senhor. A oração feita com fé curará o doente; o Senhor o levantará. E se houver cometido pecados, ele será perdoado” (Tg 5.14-15). Mas nem sempre o doente é levantado por Deus, não por falta de fé nem por ter cometido algum pecado não confessado. Muitos cristãos notáveis por este mundo afora adoecem, permanecem doentes e morrem. A soberania de Deus tem que ser levada em conta. Ou será que a igreja primitiva não orou em favor de Estêvão, que foi apedrejado (At 7.54-59), nem de Tiago, irmão de João, que foi decapitado (At 12.1-2)? Será que ela só intercedeu em favor de Pedro, que foi milagrosamente libertado da prisão (At 12.3-19)? Sindicato de mágicos Acha-se disponível no Portal Domínio Público ( www.dominiopublico.gov.br) a tese de doutorado em História Social intitulada “Sindicato de Mágicos: Uma História Cultural da Igreja Universal do Reino de Deus”, defendida em 2007 na Universidade Estadual Paulista (UNESP). A autoria é de Wander de Lara Proença, 38, professor de história do cristianismo, movimentos religiosos contemporâneos e Novo Testamento na Faculdade Teológica Sul-Americana, em Londrina, PR. A igreja de Edir Macedo tornou-se um conglomerado que mescla religião, mídia, política e negócios | | A mensagem é curta e diz tudo: Jesus Cristo é o Senhor. Foi tirada da Palavra de Deus, da Carta de Paulo aos Filipenses. Refere-se à plenitude da história, quando todas as criaturas no céu, na terra e no mundo dos mortos, em homenagem ao nome de Jesus, cairão de joelhos e declararão abertamente que Jesus Cristo é o Senhor, “para a glória de Deus, o Pai” (Fp 2.11, NTLH). Essa mensagem radical (Jesus Cristo é o Senhor, e pronto) está associada à Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Provavelmente esse recado incisivo tem levado alguns brasileiros a se converter verdadeiramente a Jesus Cristo. A grande pergunta é se o solene letreiro colocado na fachada dos quase cinco mil templos da Universal está em harmonia com a pessoa e as pretensões de seu fundador e líder máximo, o bispo Edir Macedo Bezerra, de 62 anos. Muitas coisas levam a crer que a resposta é negativa. Edir Macedo é um gênio, muito mais como empresário do que como bispo. Para falar a verdade nua e crua ele parece se encaixar perfeitamente bem entre aqueles que “embora preservem as formas da religiosidade, renegam seus efeitos” (2Tm 3.5, BP). O rebuliço em torno de sua biografia, lançada com muito alarde no dia 15 de outubro de 2007, em todas as capitais brasileiras, torna claras muitas coisas estranhas. Como empresário, há pouco o que dizer contra Edir Macedo. Mas, como empresário e bispo, pesam contra ele algumas coisas sérias. Primeiro, a biografia foi encomendada e remunerada. “Trata-se de uma obra parcial”, como diz o comentário da Folha Online. Foi escrita por dois empregados de Edir Macedo na TV Record — Douglas Tavolaro, diretor de jornalismo, e Christina Lemos, repórter de política do Jornal da Record. O próprio autor faz “uma pergunta que qualquer leitor com senso crítico faria: Como fazer uma biografia isenta de alguém que paga o seu salário?” ( Folha de São Paulo, 08/10/07, A9). Embora razoavelmente discreto até agora, o homem que se mantinha longe dos holofotes e não dava entrevista a ninguém, de repente tornou-se excessivamente visível. Lê-se no jornal da IURD que a biografia de Macedo “conta a trajetória do maior líder evangelístico do mundo” e que o livro foi publicado por “uma das mais conceituadas editoras de livros do mundo” (a Larousse). A Folha Universal (de 14 a 20/10/2007) também diz que a tiragem dos 700 mil exemplares “representa o dobro da tiragem de lançamentos como Harry Potter e dos títulos de Paulo Coelho” e promete para o início de 2008 as versões em inglês e espanhol. O mesmo jornal faz referências aos diplomas de doutorado em filosofia cristã, em teologia e em divindade que Edir Macedo tem na parede do escritório. Revela também que a Universal, fundada há 30 anos, tem 9.660 pastores, 4.748 templos e 500 mil obreiros, e estaria presente em 172 dos 183 países do mundo (vantagem maior do que o Mc Donald’s, rede de fast food mais famosa do mundo, que já se instalou em 115 países). O lançamento de O Bispo — a história revelada de Edir Macedo foi realizado estrategicamente quinze dias depois da inauguração da Record News, o primeiro canal inteiramente noticioso da TV aberta do Brasil, com a presença do presidente Lula e do governador José Serra. Presunçosamente, Edir Macedo disse ao editor-chefe da Folha Online que as revelações em sua biografia podem mudar o Brasil. Outro sinal evidente de auto-avaliação exacerbada encontra-se no próprio livro: “Se eu fosse presidente, este país seria outro”. Todas essas peças são úteis ao empresário Edir Macedo, mas inconvenientes ao bispo Edir Macedo, que anuncia que Jesus Cristo é o Senhor “para a glória de Deus, o Pai”. Na reportagem de capa de nove páginas publicadas na Veja de 10 de outubro de 2007, há um cantinho no alto da página 88 onde se lê algo muito sério: “Como o dinheiro da Igreja Universal do Reino de Deus chega à Record — e termina na conta de Edir Macedo”. Não parece nem calúnia nem futrica. A lógica é a seguinte: os bens da Universal (tanto os templos como as empresas — construtoras, seguradoras, táxi aéreo, agências de turismo e consultorias) não pertencem a Edir Macedo, mas a Record é dele e da mulher (90% do capital para ele e 10% para ela). A questão é que um dos melhores clientes da Record é a Igreja Universal, que compra, segundo Veja, 300 milhões de reais por ano em horários na televisão, o que equivale a um terço de tudo que a emissora arrecada no mercado publicitário. É desse modo legal que parte do dinheiro da Universal parece ir para as mãos de Edir Macedo. Fábio Zanini, da sucursal de Brasília da Folha de São Paulo explica que, “fundada no Rio em 1977, a Universal tornou-se um conglomerado que mescla religião, mídia e política” ( FSP, 23/09/07, A4). Talvez se deva acrescentar a essa tríade um quarto elemento: religião, mídia, política e negócios. É um argumento a mais a favor da denúncia de que Edir Macedo é mesmo um daqueles homens ávidos pelo lucro e também obcecados pelo orgulho que conseguem manter aparências de piedade religiosa, negando a sua força interior (2Tm 3.5, EP). É preciso insistir: o que está errado (e muito) é a associação do Edir Macedo bispo com o Edir Macedo empresário. Naturalmente as incomuns habilidades de Macedo nas áreas de gestão de negócios, marketing, mídia, empresariado e política fizeram seus negócios crescerem muito e depressa (a Record está avaliada em 4 bilhões de reais e a mansão que ele está terminando em Campos do Jordão, SP, é algo fora de série) e também explicam parte do crescimento vertiginoso da igreja por ele fundada. A Universal declara que tem 8 milhões de fiéis e 22 mil empregos só no Brasil, além das imponentes e bem construídas catedrais em lugares estratégicos nas capitais e maiores cidades do país. A promessa de cura e de riqueza, quase sempre associada à entrega de dízimos e ofertas vultosas — a malfadada teologia da prosperidade — é outra explicação da expansão sem igual da igreja de Edir Macedo. É preciso fazer uma ginástica enorme e passar por cima de muitos critérios para tentar atribuir o crescimento da IURD à atuação do Espírito Santo. Quanto às eventuais conversões que ali acontecem, devem ser creditadas à misericórdia divina e ao poder intrínseco da Palavra de Deus. Paulo já havia enfrentado essa questão quando escreveu aos Filipenses que não importa se Cristo é proclamado com segundas intenções ou não. Nota de rodapé da Nova Tradução na Linguagem de Hoje explica que “enquanto a falta de sinceridade atinge apenas a pessoa, sem mexer com aquilo que está sendo anunciado, Paulo não se importa” (Fp 1.8). Pelo menos o letreiro colocado na fachada dos 5 mil templos da Universal está proclamando que “Jesus é o Senhor, para a glória de Deus, o Pai” — uma mensagem absolutamente certa! | | Raízes históricas da teologia da prosperidade | | Alderi Souza de Matos O evangelicalismo brasileiro apresenta características apreciáveis e preocupantes. Entre estas últimas está o gosto por novidades. Líderes e fiéis sentem que, para manter o interesse pelas coisas de Deus, é preciso que de tempos em tempos surja um ensino novo, uma nova ênfase ou experiência. Geralmente tais inovações têm sua origem nos Estados Unidos. Assim como outros países, o Brasil é um importador e consumidor de bens materiais e culturais norte-americanos. Isso ocorre também na área religiosa. Um movimento de origem americana que tem tido enorme receptividade no meio evangélico brasileiro desde os anos 80 é a chamada teologia da prosperidade. Também é conhecida como “confissão positiva”, “palavra da fé”, “movimento da fé” e “evangelho da saúde e da prosperidade”. A história das origens desse ensino revela aspectos questionáveis que devem servir de alerta para os que estão fascinados com ele. Ao contrário do que muitos imaginam, as idéias básicas da confissão positiva não surgiram no pentecostalismo, e sim em algumas seitas sincréticas da Nova Inglaterra, no início do século 20. Todavia, por causa de algumas afinidades com a cosmovisão pentecostal, como a crença em profecias, revelações e visões, foi em círculos pentecostais e carismáticos que a confissão positiva teve maior acolhida, tanto nos Estados Unidos como no Brasil. A história de seus dois grandes paladinos irá elucidar as raízes dessa teologia popular e mostrar por que ela é danosa para a integridade do evangelho. Essek W. Kenyon, o pioneiro Embora os adeptos da teologia da prosperidade considerem Kenneth Hagin o pai desse movimento, pesquisas cuidadosas feitas por vários estudiosos, como D. R. McConnell, demonstraram conclusivamente que o verdadeiro originador da confissão positiva foi Essek William Kenyon (1867-1948). Esse evangelista de origem metodista nasceu no condado de Saratoga, Estado de Nova York, e se converteu na adolescência. Em 1892 mudou-se para Boston, onde estudou no Emerson College, conhecido por ser um centro do chamado movimento “transcendental” ou “metafísico”, que deu origem a várias seitas de orientação duvidosa. Uma das influências recebidas e reconhecidas por Kenyon nessa época foi a de Mary Baker Eddy, fundadora da Ciência Cristã. Kenyon iniciou o Instituto Bíblico Betel, que dirigiu até 1923. Transferiu-se então para a Califórnia, onde fez inúmeras campanhas evangelísticas. Pregou diversas vezes no célebre Templo Angelus, em Los Angeles, da evangelista Aimee Semple McPherson, fundadora da Igreja do Evangelho Quadrangular. Pastoreou igrejas batistas independentes em Pasadena e Seattle e foi um pioneiro do evangelismo pelo rádio, com sua “Igreja do Ar”. As transcrições gravadas de seus programas serviram de base para muitos de seus escritos. Cunhou muitas expressões populares do movimento da fé, como “O que eu confesso, eu possuo”. Antes de morrer, em 1948, encarregou a filha Ruth de dar continuidade ao seu ministério e publicar seus escritos. Quais eram as crenças dos tais grupos metafísicos? Eles ensinavam que a verdadeira realidade está além do âmbito físico. A esfera do espírito não só é superior ao mundo físico, mas controla cada um dos seus aspectos. Mais ainda, a mente humana pode controlar a esfera espiritual. Portanto, o ser humano tem a capacidade inata de controlar o mundo material por meio de sua influência sobre o espiritual, principalmente no que diz respeito à cura de enfermidades. Kenyon acreditava que essas idéias não somente eram compatíveis com o cristianismo, mas podiam aperfeiçoar a espiritualidade cristã tradicional. Mediante o uso correto da mente, o crente poderia reivindicar os plenos benefícios da salvação. Kenneth Hagin, o divulgador O grande divulgador dos ensinos de Kenyon, a ponto de ser considerado o pai do movimento da fé, foi Kenneth Erwin Hagin (1917-2003). Ele nasceu em McKinney, Texas, com um sério problema cardíaco. Teve uma infância difícil, principalmente depois dos 6 anos, quando o pai abandonou a família. Pouco antes de completar 16 anos sua saúde piorou e ele ficou confinado a uma cama. Teve então algumas experiências marcantes. Após três visitas ao inferno e ao céu, converteu-se a Cristo. Refletindo sobre Marcos 11.23-24, chegou à conclusão de que era necessário crer, declarar verbalmente a fé e agir como se já tivesse recebido a bênção (“creia no seu coração, decrete com a boca e será seu”). Pouco depois, obteve a cura de sua enfermidade. Em 1934 Hagin começou seu ministério como pregador batista e três anos depois se associou aos pentecostais. Recebeu o batismo com o Espírito Santo e falou em línguas. No mesmo ano foi licenciado como pastor das Assembléias de Deus e pastoreou várias igrejas no Texas. Em 1949 começou a envolver-se com pregadores independentes de cura divina e em 1962 fundou seu próprio ministério. Finalmente, em 1966 fez da cidade de Tulsa, em Oklahoma, a sede de suas atividades. Ao longo dos anos, o Seminário Radiofônico da Fé, a Escola Bíblica por Correspondência Rhema, o Centro de Treinamento Bíblico Rhema e a revista “Word of Faith” (Palavra da Fé) alcançaram um imenso número de pessoas. Outros recursos utilizados foram fitas cassete e mais de cem livros e panfletos. Hagin dizia ter recebido a unção divina para ser mestre e profeta. Em seu fascínio pelo sobrenatural, alegou ter tido oito visões de Jesus Cristo nos anos 50, bem como diversas outras experiências fora do corpo. Segundo ele, seus ensinos lhe foram transmitidos diretamente pelo próprio Deus mediante revelações especiais. Todavia, ficou comprovado posteriormente que ele se inspirou grandemente em Kenyon, a ponto de copiar, quase palavra por palavra, livros inteiros desse antecessor. Em uma tese de mestrado na Universidade Oral Roberts, D. R. McConnell demonstrou que muito do que Hagin afirmou ter recebido de Deus não passava de plágio dos escritos de Kenyon. A explicação bastante suspeita dada por Hagin é que o Espírito Santo havia revelado as mesmas coisas aos dois. Reflexos no Brasil Os ensinos de Hagin influenciaram um grande número de pregadores norte-americanos, a começar de Kenneth Copeland, seu herdeiro presuntivo. Outros seguidores seus foram Benny Hinn, Frederick Price, John Avanzini, Robert Tilton, Marilyn Hickey, Charles Capps, Hobart Freeman, Jerry Savelle e Paul (David) Yonggi Cho, entre outros. Em 1979, Doyle Harrison, genro de Hagin, fundou a Convenção Internacional de Igrejas e Ministros da Fé, uma virtual denominação. Nos anos 80, os ensinos da confissão positiva e do evangelho da prosperidade chegaram ao Brasil. Um dos primeiros a difundi-lo foi Rex Humbard. Marilyn Hickey, John Avanzini e Benny Hinn participaram de conferências promovidas pela Associação de Homens de Negócios do Evangelho Pleno (Adhonep). Outros visitantes foram Robert Tilton e Dave Robertson. Entre as primeiras manifestações do movimento estavam a Igreja do Verbo da Vida e o Seminário Verbo da Vida (Guarulhos), a Comunidade Rema (Morro Grande) e a Igreja Verbo Vivo (Belo Horizonte). Alguns líderes que abraçaram essa teologia foram Jorge Tadeu, das Igrejas Maná (Portugal); Cássio Colombo (“tio Cássio”), do Ministério Cristo Salva, em São Paulo; o “apóstolo” Miguel Ângelo da Silva Ferreira, da Igreja Evangélica Cristo Vive, no Rio de Janeiro, e R. R. Soares, responsável pela publicação da maior parte dos livros de Hagin no Brasil. Talvez a figura mais destacada dos primeiros tempos tenha sido a pastora Valnice Milhomens, líder do Ministério Palavra da Fé, que conheceu os ensinos da confissão positiva na África do Sul. As igrejas brasileiras sofreram o impacto de uma avalanche de livros, fitas e apostilas sobre confissão positiva. Ricardo Gondim observou em 1993: “Com livros extremamente simples, [Hagin] conseguiu influenciar os rumos da igreja no Brasil mais do que qualquer outro líder religioso nos últimos tempos”. Conclusão Além de apresentar ensinos questionáveis sobre a fé, a oração e as prioridades da vida cristã, e de relativizar a importância das Escrituras por meio de novas revelações, a teologia da prosperidade, através dos escritos de seus expoentes, apresenta outras ênfases preocupantes no seu entendimento de Deus, de Jesus Cristo, do ser humano e da salvação. A partir dos anos 80, várias denominações pentecostais norte-americanas se posicionaram oficialmente contra os excessos desse movimento (Assembléias de Deus, Evangelho Quadrangular e Igreja de Deus). Autores como Charles Farah, Gordon Fee, D. R. McConnell e Hank Hanegraaff, todos simpatizantes do movimento carismático, escreveram obras contestando a confissão positiva e suas implicações. Eles destacaram como, embora essa teologia pareça uma maneira empolgante de encarar a Bíblia, ela se distancia em pontos cruciais da fé cristã histórica. No Brasil, três obras significativas publicadas em 1993 -- “O Evangelho da Prosperidade”, de Alan B. Pieratt; “O Evangelho da Nova Era”, de Ricardo Gondim; e “Supercrentes”, de Paulo Romeiro -- alertaram solenemente as igrejas evangélicas para esses perigos. Tristemente, vários grupos, principalmente os que têm maior visibilidade na mídia, estão cada vez mais comprometidos com essa teologia desconhecida da maior parte da história da igreja. Ao defenderem e legitimarem os valores da sociedade secular (riqueza, poder e sucesso), e ao oferecerem às pessoas o que elas ambicionam, e não o que realmente necessitam aos olhos de Deus, tais igrejas crescem de maneira impressionante, mas perdem grande oportunidade de produzir um impacto salutar e transformador na sociedade brasileira. • Alderi Souza de Matos é doutor em história da igreja pela Universidade de Boston e historiador oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil. É autor de A Caminhada Cristã na História e "Os Pioneiros Presbiterianos do Brasil". asdm@mackenzie.com.br | | | | |