Assisti ao filme Cisne Negro. Confesso que o longa não me encantou, apesar da atuação extraordinária de Natalie Portman (que inclusive levou o Oscar de melhor atriz de 2011). Mas, algumas reflexões me vieram à mente após o fim.
A trama gira em torno de Nina Sayers (Natalie Portman), uma bailarina que se vê diante da chance de interpretar o papel principal em uma montagem de “O Lago dos Cisnes”, de Piotr Ilitch Tchaikovsky. Nina é perfeita tecnicamente, o que a qualifica para interpretar o cisne branco, porém, não apresenta a espontaneidade necessária para vivenciar o cisne negro, que exige uma postura de sedução e desprendimento.
Diante desse desafio de superação, insegura e sem amigos, a bailarina ingressa numa espiral psicótica de busca pela perfeição e na tentativa de mostrar para seu coreógrafo que é capaz de expor seu lado mais selvagem, culminando então numa indefinição entre o sonho e a realidade e uma duplicidade de comportamento. Desse modo, seu lado negro passa a se sobrepor sem que ela possa controlá-lo.
A reflexão que faço sobre o filme é exatamente sobre a duplicidade de personalidade de Nina: o cisne branco e o negro que se enfrentam. De um lado, a perfeição, o controle e a pureza e do outro a sedução e a sensualidade.
Paulo falou de certa luta no âmago do nosso ser. Ele dizia:
“Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; com efeito o querer o bem está em mim, mas o efetuá-lo não está.Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico. Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim”. (Rm 7.18-20).
Essa é a batalha interior do cristão; entre o homem natural e o espiritual; entre o cisne branco e o cisne negro.
Naturalmente, essa luta por si só não poderia levar o cristão a uma dupla personalidade psicótica. Isso porque, conscientes de nossas falhas deveríamos viver pela graça de Cristo, aquele que perdoa nossas falhas e nos afasta do erro.
Entretanto, de forma inevitável muitos ingressam na mesma espiral lunática de Nina por uma razão mais ou menos simples: buscam a perfeição sozinhas tendo o legalismo como parâmetro. E quando percebem que são incapazes de agir unicamente como o cisne branco, por sua própria força, enveredam-se para o outro lado obscuro.
Mas, o que é pior: apresentam-se como cisnes brancos na igreja, porém, agindo como cisnes negros em outros lugares.
Isso me faz lembrar a existência de muitos crentes em tratamento em manicômios. Pessoas que se enveredaram para a loucura, psicose, esquizofrenia etc. Sem desprezar os diversos fatores que podem levar a tal situação, penso que um dos elementos que pode provocar esse desvio mental é exatamente a postura de busca da perfeição por meio do legalismo. Afinal, quando a pessoa observa o elevado padrão moral do cristianismo e, desprezando a graça de Deus, percebe que não consegue atingi-lo, se vê num beco sem saída; quando então a mente entra em colapso.
Guardadas as devidas proporções, o coreografo da bailarina disse algo que merece consideração: “Perfeição não é só sobre controle; é também saber abandonar-se” . Para nós: Perfeição não é só sobre controle; é também saber abandonar-se nos braços e na graça de Deus”.
Por Valmir Nascimento - http://comoviveremos.com